sempre existirá alguém pronto para te decepcionar,
algum motivo para você chorar,
alguma coisa para você perder, esquecer ou sentir falta.
seja forte e não perca a ternura.
e isso basta.
sábado, 8 de maio de 2010
o que eu não quero.
o que eu não quero mais:
um sorriso que não seja verdadeiro,
um abraço que não seja apertado,
uma mão que não esteja aberta,
um olhar que não enxergue o que ninguém vê,
uma boca que só fala e nada diz,
um ouvido que não seja capaz de escutar o silêncio,
uma cabeça que não reflita,
um coração que não bata mais forte de vez em quando,
uma alma que nada sinta.
eu quero sentir.
eu quero sentir que você sente.
eu quero sentir que você algum dia pode vir a sentir.
um sorriso que não seja verdadeiro,
um abraço que não seja apertado,
uma mão que não esteja aberta,
um olhar que não enxergue o que ninguém vê,
uma boca que só fala e nada diz,
um ouvido que não seja capaz de escutar o silêncio,
uma cabeça que não reflita,
um coração que não bata mais forte de vez em quando,
uma alma que nada sinta.
eu quero sentir.
eu quero sentir que você sente.
eu quero sentir que você algum dia pode vir a sentir.
sábado, 10 de abril de 2010
... dias cinzas.
a natureza se revolta ...
como pôde a gente não sentir ?
a gente chora ...
a dor não tem mais pra onde ir.
chuva de lágrimas.
mar de dor.
.
domingo, 4 de abril de 2010
o vão .
depois de um tempo afastada, volto com "Mind the Gap", crônica da Martha Medeiros
publicada dia 04/04/2010 no Jornal O Globo.
Quem já viajou para outros países, especialmente os de idioma inglês, e andou de metrô, já se deparou com o aviso que há em cada estação subterrânea. Ou está escrito no chão, ou os alto-falantes avisam: “Mind the gap”. Significa “cuidado com o vão”. Não caia. Não dê um passo em falso. Fique atrás da linha amarela. Não avance. Não arrisque cair nos trilhos. Mind the gap. Mind the gap.
Estava eu, numa noite de sábado, assistindo em casa ao filme“Notas de um escândalo”, cujo atrativo maior é o duelo de duas grandes atrizes, Cate Blanchett e Judi Dench, quando a personagem da insatisfeita Cate saiu-se com essa frase: “Temos que ter cuidado com o vão. Que é a distância entre a vida que você sonha e a vida como ela é”.
A distância entre a vida que você sonha e a vida como ela é.
Mind the gap, pois a queda é dolorosa. Mantenha-se com os pés firmes na vida que você tem. Claro que a vida sonhada é determinante para a busca da felicidade, claro que é essa vida “do lado de lá” que nos mantém despertos, claro que o sonho é mais inspirador do que a realidade, porém, cuidado com o vão. É onde a gente se machuca.
O túnel de uma estação de metrô costuma ser recheado de cartazes publicitários. Fotos de ilhas caribenhas para vender cartão de crédito, fotos de mulheres sublimes para vender cosméticos, fotos de casais jovens e apaixonados para vender roupas. Um mundo lindo e perfeito, sem tédio, sem dívidas, sem solidão. Ali, do outro lado do vão.
E a gente olhando tudo isso, parado, em pé, segurando uma mochila pesada, enquanto espera o trem.
Se você está viajando a turismo, se está em outra cidade ou em outro país, de certa forma já está do lado de lá do vão, está vivendo um instante de deslumbramento, em que se encontra longe de casa, longe do trabalho, com algum dinheiro pra gastar, com tempo livre, tirando umas férias da rotina e de você mesmo: não seria essa a descrição perfeita de “a vida que você sonha”?
Férias é sempre um passeio por essa outra vida, a idealizada.
Mas pense bem: imagine uma vida eterna de prazeres, sem hora para dormir nem para acordar, com o mundo bem resolvido, o céu sempre azul, um amor tranquilo, champanhe e caviar dia e noite. Uma semana, um mês, 10 anos sem motivos pra chorar, sem um compromisso a cumprir, sem um desafio.
Fazendo esta transferência, consigo me ver estampada nas paredes de uma estação, eu e minha vida de comercial de cartão de crédito, olhando aquela outra mulher na plataforma oposta, em pé, esperando o trem para levá-la a uma reunião de trabalho, a um encontro que pode frustrá-la ou surpreendê-la, a um bairro em que pode estar chovendo, a um acontecimento que deixará seu coração palpitando, e penso que talvez eu continuasse angustiada com a imensa distância que há entre a vida que a gente sonha e a vida como ela é.
Estamos sempre de olho na outra margem, na plataforma de lá. E o vão nunca some.
... e eu não preciso dizer mais nada .
publicada dia 04/04/2010 no Jornal O Globo.
Quem já viajou para outros países, especialmente os de idioma inglês, e andou de metrô, já se deparou com o aviso que há em cada estação subterrânea. Ou está escrito no chão, ou os alto-falantes avisam: “Mind the gap”. Significa “cuidado com o vão”. Não caia. Não dê um passo em falso. Fique atrás da linha amarela. Não avance. Não arrisque cair nos trilhos. Mind the gap. Mind the gap.
Estava eu, numa noite de sábado, assistindo em casa ao filme“Notas de um escândalo”, cujo atrativo maior é o duelo de duas grandes atrizes, Cate Blanchett e Judi Dench, quando a personagem da insatisfeita Cate saiu-se com essa frase: “Temos que ter cuidado com o vão. Que é a distância entre a vida que você sonha e a vida como ela é”.
A distância entre a vida que você sonha e a vida como ela é.
Mind the gap, pois a queda é dolorosa. Mantenha-se com os pés firmes na vida que você tem. Claro que a vida sonhada é determinante para a busca da felicidade, claro que é essa vida “do lado de lá” que nos mantém despertos, claro que o sonho é mais inspirador do que a realidade, porém, cuidado com o vão. É onde a gente se machuca.
O túnel de uma estação de metrô costuma ser recheado de cartazes publicitários. Fotos de ilhas caribenhas para vender cartão de crédito, fotos de mulheres sublimes para vender cosméticos, fotos de casais jovens e apaixonados para vender roupas. Um mundo lindo e perfeito, sem tédio, sem dívidas, sem solidão. Ali, do outro lado do vão.
E a gente olhando tudo isso, parado, em pé, segurando uma mochila pesada, enquanto espera o trem.
Se você está viajando a turismo, se está em outra cidade ou em outro país, de certa forma já está do lado de lá do vão, está vivendo um instante de deslumbramento, em que se encontra longe de casa, longe do trabalho, com algum dinheiro pra gastar, com tempo livre, tirando umas férias da rotina e de você mesmo: não seria essa a descrição perfeita de “a vida que você sonha”?
Férias é sempre um passeio por essa outra vida, a idealizada.
Mas pense bem: imagine uma vida eterna de prazeres, sem hora para dormir nem para acordar, com o mundo bem resolvido, o céu sempre azul, um amor tranquilo, champanhe e caviar dia e noite. Uma semana, um mês, 10 anos sem motivos pra chorar, sem um compromisso a cumprir, sem um desafio.
Fazendo esta transferência, consigo me ver estampada nas paredes de uma estação, eu e minha vida de comercial de cartão de crédito, olhando aquela outra mulher na plataforma oposta, em pé, esperando o trem para levá-la a uma reunião de trabalho, a um encontro que pode frustrá-la ou surpreendê-la, a um bairro em que pode estar chovendo, a um acontecimento que deixará seu coração palpitando, e penso que talvez eu continuasse angustiada com a imensa distância que há entre a vida que a gente sonha e a vida como ela é.
Estamos sempre de olho na outra margem, na plataforma de lá. E o vão nunca some.
... e eu não preciso dizer mais nada .
domingo, 28 de fevereiro de 2010
a fonte.
há três semanas uma fonte queimou.
há duas semanas a fonte do computador foi trocada.
e a minha ?
resolveu me abandonar - já nem sei quanto tempo faz -,
ninguém trocou
e eu não a encontrei.
que faço, então ?
procuro no google ?
não há resultados.
a minha fonte não existe
ou a escondi num lugar tão secreto
que nem me lembro mais.
água pra minha sede.
fonte pra minha alma.
doce pro meu coração.
fonte pra minha alma.
há duas semanas a fonte do computador foi trocada.
e a minha ?
resolveu me abandonar - já nem sei quanto tempo faz -,
ninguém trocou
e eu não a encontrei.
que faço, então ?
procuro no google ?
não há resultados.
a minha fonte não existe
ou a escondi num lugar tão secreto
que nem me lembro mais.
água pra minha sede.
fonte pra minha alma.
doce pro meu coração.
fonte pra minha alma.
domingo, 24 de janeiro de 2010
sina .
eu sei que não é normal olhar para o nada.
eu sei que o silêncio incomoda.
eu sei que o olhar está diferente, que há um brilho estranho.
mas é que não tem como fazer outra coisa ultimamente.
e não, não sei porquê.
não é meu.
só não sei o que estou fazendo aqui agora -
mesmo que esse agora tenha durado e dure mais um pouco.
(...)
Há uma alma em mim,
Há uma calma que não condiz
Com a nossa pressa
Com o resta que nos resta
Lamentavelmente eu sou assim
Um tanto disperso
Ás vezes desapareço
Pois depois recomeço
Mas antes me esqueço
Nossa sina é se ensinar
A sina nossa é.
Minha senhora diz:
Bons ventos para nós
Para assim sempre
Soprar sobre nós.
[ Sina Nossa - O Teatro Mágico]
eu sei que o silêncio incomoda.
eu sei que o olhar está diferente, que há um brilho estranho.
mas é que não tem como fazer outra coisa ultimamente.
e não, não sei porquê.
não é meu.
só não sei o que estou fazendo aqui agora -
mesmo que esse agora tenha durado e dure mais um pouco.
(...)
Há uma alma em mim,
Há uma calma que não condiz
Com a nossa pressa
Com o resta que nos resta
Lamentavelmente eu sou assim
Um tanto disperso
Ás vezes desapareço
Pois depois recomeço
Mas antes me esqueço
Nossa sina é se ensinar
A sina nossa é.
Minha senhora diz:
Bons ventos para nós
Para assim sempre
Soprar sobre nós.
[ Sina Nossa - O Teatro Mágico]
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
mais uma vez, Clarice.
Sou assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico e fantástico - a vida é sobrenatural. E eu caminho em corda bamba até o limite de meu sonho. As vísceras torturadas pela voluptuosidade me guiam, fúria dos impulsos. Antes de me organizar, tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de liberdade. Da liberdade de errar, cair e levantar-me.
[trecho de Água Viva, de Clarice Lispector]
[trecho de Água Viva, de Clarice Lispector]
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