quarta-feira, 21 de julho de 2010

Estrangeira.

- Que você não é daqui eu já sabia.
- Mas por quê ?
- Sei lá. Você é assim ...
- Assim ??
- É. Não é como a gente.
- Fazer o quê ? Não entendo.
- Viu ? Você não entende. Você não ouve coisas normais. Você não lê sobre assuntos reais.
- ...
- Você não gosta de aniversário, não gosta de parabéns, não comemora nada por você.
- Não sei o que falar...
- Você se cala. O olhar se perde. Reticências e interrogações.
- Ah, as pessoas são diferentes ...
- Sim, mas você não entende. Você é tão alheia a tudo que não consegue viver na realidade.
- Estou com medo de você.
- O que você busca está além de qualquer coisa que possa existir aqui. Não sabe ser feliz.
- Sou tão transparente assim ?
- Não. Você simplesmente é. E não é daqui. Estrangeira de si.

terça-feira, 20 de julho de 2010

No vazio .

O que me tira o sono não é não saber onde você está agora,
é saber que você nunca ficou aqui comigo o suficiente.
O que me deixa nervosa, estalando os dedos e batendo os pés contra o chão,
não é ver você saindo toda noite,
é não te ver entrando por aquela porta.
O que me faz ficar com raiva não é pensar em você com outra,
é imaginar porquê não é em mim que você pensa.

Porque o que me desespera, o que me faz chorar, o que me enlouquece,
é sonhar todos os dias com os lugares que não conhecemos juntos,
com os olhares que não trocamos,
com a casa que não construímos,
com a música que não nos embalou,
com o sonho que nunca sonhamos.

Eu não preciso de um coração,
eu só quero que ele não tenha que bater no vazio.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

linhas e entrelinhas.

não, você não fez nada.
esse é o problema.
se tivesse feito, eu teria o que lembrar - você também, e saberia.

essa história não teve linhas,
foi feita entrelinhas,
imaginadas por mim e alimentadas por você.
e sentida por mim - de verdade, só por mim.

"eu te amo" não é o suficiente.
palavras não são o bastante, não mais.

o que importa é você aqui, não aí.
o que eu quero é olhar no fundo dos seus olhos .
e sentir que você está ali - e que eu posso estar também.

eu preciso de mágica nas entrelinhas.
nas linhas eu preciso do que é de verdade.

ensaio sobre uma dor.

o que você vê não é o que sinto.
o que sinto não tem nome e nem explicação.
porque você explica o que entende.
o que você não entende dói.
dói uma dor cortante.
uma lágrima cai sem que você ao menos sinta.

você já não sabe mais o que te importa,
não lembra se já amou alguém.
se algum dia foi ferido,
se alguma vez seu coração foi tocado.
tudo o que vê é incompleto, confuso e sem cor.

acordado, você sonha.
sonhando, você foge.
e não tem sentido.
e não tem explicação.