terça-feira, 28 de setembro de 2010

keep walking.

eu ando pensando:
ando sem chão.
sem chão, ando voando.
sem asas, ando sonhando.
sen sonhos, ando chorando.
mas eu continuo a andar ...

I'm sorry .

hoje eu preciso me desculpar.
peço desculpas por não ter ido te ver - eu não queria ser vista, apenas.
peço desculpas por não te ligar - você sabe, é difícil falar.
peço desculpas por não estar presente como outrora estive - nesse momento, minha ausência sufoca até a mim.
peço desculpas por não explicar o que acontece - muitas vezes as palavras me fogem.
peço desculpas por não entender - acho que perdi alguma coisa.

desculpe-me por me esconder,
por calar,
por não estar.

é que eu não sei mais
o que fazer,
o que sentir,
o que procurar,
o que encontrar.

I'm sorry.
I just want you to know that
what's inside never dies.
that's all.

domingo, 26 de setembro de 2010

Metade .

... porque quando as minhas palavras tiram férias,
outras me socorrem.


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste,
e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

[Metade - Oswaldo Montenegro]


preciso dizer mais alguma coisa ?
acho que, por hoje, não.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Estrangeira.

- Que você não é daqui eu já sabia.
- Mas por quê ?
- Sei lá. Você é assim ...
- Assim ??
- É. Não é como a gente.
- Fazer o quê ? Não entendo.
- Viu ? Você não entende. Você não ouve coisas normais. Você não lê sobre assuntos reais.
- ...
- Você não gosta de aniversário, não gosta de parabéns, não comemora nada por você.
- Não sei o que falar...
- Você se cala. O olhar se perde. Reticências e interrogações.
- Ah, as pessoas são diferentes ...
- Sim, mas você não entende. Você é tão alheia a tudo que não consegue viver na realidade.
- Estou com medo de você.
- O que você busca está além de qualquer coisa que possa existir aqui. Não sabe ser feliz.
- Sou tão transparente assim ?
- Não. Você simplesmente é. E não é daqui. Estrangeira de si.

terça-feira, 20 de julho de 2010

No vazio .

O que me tira o sono não é não saber onde você está agora,
é saber que você nunca ficou aqui comigo o suficiente.
O que me deixa nervosa, estalando os dedos e batendo os pés contra o chão,
não é ver você saindo toda noite,
é não te ver entrando por aquela porta.
O que me faz ficar com raiva não é pensar em você com outra,
é imaginar porquê não é em mim que você pensa.

Porque o que me desespera, o que me faz chorar, o que me enlouquece,
é sonhar todos os dias com os lugares que não conhecemos juntos,
com os olhares que não trocamos,
com a casa que não construímos,
com a música que não nos embalou,
com o sonho que nunca sonhamos.

Eu não preciso de um coração,
eu só quero que ele não tenha que bater no vazio.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

linhas e entrelinhas.

não, você não fez nada.
esse é o problema.
se tivesse feito, eu teria o que lembrar - você também, e saberia.

essa história não teve linhas,
foi feita entrelinhas,
imaginadas por mim e alimentadas por você.
e sentida por mim - de verdade, só por mim.

"eu te amo" não é o suficiente.
palavras não são o bastante, não mais.

o que importa é você aqui, não aí.
o que eu quero é olhar no fundo dos seus olhos .
e sentir que você está ali - e que eu posso estar também.

eu preciso de mágica nas entrelinhas.
nas linhas eu preciso do que é de verdade.

ensaio sobre uma dor.

o que você vê não é o que sinto.
o que sinto não tem nome e nem explicação.
porque você explica o que entende.
o que você não entende dói.
dói uma dor cortante.
uma lágrima cai sem que você ao menos sinta.

você já não sabe mais o que te importa,
não lembra se já amou alguém.
se algum dia foi ferido,
se alguma vez seu coração foi tocado.
tudo o que vê é incompleto, confuso e sem cor.

acordado, você sonha.
sonhando, você foge.
e não tem sentido.
e não tem explicação.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

mundo perdido.

tudo o que ela quer é um sentido.
ela não acredita mais no que vê.
o que ouve a confunde.
o que sente, não sabe.

ontem ela descobriu que não sabe o que é amor.
talvez só tenha conhecido o amor dos livros, dos filmes e das músicas.
o que ela vê por aí não reconhece.
não entende.

como entender algo que nunca sentiu?
como sentir algo que não conhece?

agora ela fica presa num mundo perdido.
não sabe o que é sonho, o que é realidade, o que não é.

ela sorri querendo chorar.
ela perde querendo encontrar.

domingo, 9 de maio de 2010

do outro lado.

acho que eu vi o outro lado.
eu não queria estar ali,
precisava ir para lá.

tudo que lembro se resume a vozes
e a um vazio.
mais nada.

só sei que naquela noite quase dia,
seis mãos me salvaram.
três almas recuperaram uma alma que já estava quase do lado de lá.
isso não tem preço.

e não havia lágrima que desse vazão àquela dor.
e não hovia lágrima que exprimisse tamanha gratidão.
e não havia lágrima mais viva.

se eu estou inteira ?
uma metade inteira.
a outra não sei pra onde foi - talvez esteja lá.

sábado, 8 de maio de 2010

e isso basta.

sempre existirá alguém pronto para te decepcionar,
algum motivo para você chorar,
alguma coisa para você perder, esquecer ou sentir falta.

seja forte e não perca a ternura.
e isso basta.

o que eu não quero.

o que eu não quero mais:
um sorriso que não seja verdadeiro,
um abraço que não seja apertado,
uma mão que não esteja aberta,
um olhar que não enxergue o que ninguém vê,
uma boca que só fala e nada diz,
um ouvido que não seja capaz de escutar o silêncio,
uma cabeça que não reflita,
um coração que não bata mais forte de vez em quando,
uma alma que nada sinta.

eu quero sentir.
eu quero sentir que você sente.
eu quero sentir que você algum dia pode vir a sentir.

sábado, 10 de abril de 2010

... dias cinzas.

a natureza se revolta ...
como pôde a gente não sentir ?
a gente chora ...
a dor não tem mais pra onde ir.

chuva de lágrimas.
mar de dor.


.

domingo, 4 de abril de 2010

o vão .

depois de um tempo afastada, volto com "Mind the Gap", crônica da Martha Medeiros
publicada dia 04/04/2010 no Jornal O Globo.


Quem já viajou para outros países, especialmente os de idioma inglês, e andou de metrô, já se deparou com o aviso que há em cada estação subterrânea. Ou está escrito no chão, ou os alto-falantes avisam: “Mind the gap”. Significa “cuidado com o vão”. Não caia. Não dê um passo em falso. Fique atrás da linha amarela. Não avance. Não arrisque cair nos trilhos. Mind the gap. Mind the gap.
Estava eu, numa noite de sábado, assistindo em casa ao filme“Notas de um escândalo”, cujo atrativo maior é o duelo de duas grandes atrizes, Cate Blanchett e Judi Dench, quando a personagem da insatisfeita Cate saiu-se com essa frase: “Temos que ter cuidado com o vão. Que é a distância entre a vida que você sonha e a vida como ela é”.
A distância entre a vida que você sonha e a vida como ela é.
Mind the gap, pois a queda é dolorosa. Mantenha-se com os pés firmes na vida que você tem. Claro que a vida sonhada é determinante para a busca da felicidade, claro que é essa vida “do lado de lá” que nos mantém despertos, claro que o sonho é mais inspirador do que a realidade, porém, cuidado com o vão. É onde a gente se machuca.
O túnel de uma estação de metrô costuma ser recheado de cartazes publicitários. Fotos de ilhas caribenhas para vender cartão de crédito, fotos de mulheres sublimes para vender cosméticos, fotos de casais jovens e apaixonados para vender roupas. Um mundo lindo e perfeito, sem tédio, sem dívidas, sem solidão. Ali, do outro lado do vão.
E a gente olhando tudo isso, parado, em pé, segurando uma mochila pesada, enquanto espera o trem.
Se você está viajando a turismo, se está em outra cidade ou em outro país, de certa forma já está do lado de lá do vão, está vivendo um instante de deslumbramento, em que se encontra longe de casa, longe do trabalho, com algum dinheiro pra gastar, com tempo livre, tirando umas férias da rotina e de você mesmo: não seria essa a descrição perfeita de “a vida que você sonha”?
Férias é sempre um passeio por essa outra vida, a idealizada.
Mas pense bem: imagine uma vida eterna de prazeres, sem hora para dormir nem para acordar, com o mundo bem resolvido, o céu sempre azul, um amor tranquilo, champanhe e caviar dia e noite. Uma semana, um mês, 10 anos sem motivos pra chorar, sem um compromisso a cumprir, sem um desafio.
Fazendo esta transferência, consigo me ver estampada nas paredes de uma estação, eu e minha vida de comercial de cartão de crédito, olhando aquela outra mulher na plataforma oposta, em pé, esperando o trem para levá-la a uma reunião de trabalho, a um encontro que pode frustrá-la ou surpreendê-la, a um bairro em que pode estar chovendo, a um acontecimento que deixará seu coração palpitando, e penso que talvez eu continuasse angustiada com a imensa distância que há entre a vida que a gente sonha e a vida como ela é.
Estamos sempre de olho na outra margem, na plataforma de lá. E o vão nunca some.




... e eu não preciso dizer mais nada .

domingo, 28 de fevereiro de 2010

a fonte.

há três semanas uma fonte queimou.
há duas semanas a fonte do computador foi trocada.
e a minha ?
resolveu me abandonar - já nem sei quanto tempo faz -,
ninguém trocou
e eu não a encontrei.

que faço, então ?
procuro no google ?
não há resultados.
a minha fonte não existe
ou a escondi num lugar tão secreto
que nem me lembro mais.

água pra minha sede.
fonte pra minha alma.
doce pro meu coração.
fonte pra minha alma.

domingo, 24 de janeiro de 2010

sina .

eu sei que não é normal olhar para o nada.
eu sei que o silêncio incomoda.
eu sei que o olhar está diferente, que há um brilho estranho.
mas é que não tem como fazer outra coisa ultimamente.
e não, não sei porquê.
não é meu.
só não sei o que estou fazendo aqui agora -
mesmo que esse agora tenha durado e dure mais um pouco.


(...)
Há uma alma em mim,
Há uma calma que não condiz
Com a nossa pressa
Com o resta que nos resta
Lamentavelmente eu sou assim
Um tanto disperso
Ás vezes desapareço
Pois depois recomeço
Mas antes me esqueço

Nossa sina é se ensinar
A sina nossa é.

Minha senhora diz:
Bons ventos para nós
Para assim sempre
Soprar sobre nós.

[ Sina Nossa - O Teatro Mágico]

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

mais uma vez, Clarice.

Sou assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico e fantástico - a vida é sobrenatural. E eu caminho em corda bamba até o limite de meu sonho. As vísceras torturadas pela voluptuosidade me guiam, fúria dos impulsos. Antes de me organizar, tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de liberdade. Da liberdade de errar, cair e levantar-me.

[trecho de Água Viva, de Clarice Lispector]