terça-feira, 27 de outubro de 2009

sobre um tempo que não volta mais.

naquele tempo, os homens tinham cabelos longos, barba e expressão rude.
era só chegar mais perto que podiam ser notados o brilho no olhar e a doçura nas palavras.
e você me pergunta se esses homens ainda existem.
_ sim. estão por aí, caminhando mansamente em busca de um lugar no mundo do qual sentem não fazer parte.
e você me pergunta como sei disso.
então, respondo:
_ sou do tempo em que as mulheres - também de longos cabelos - eram sensíveis o suficiente para perceber e valorizar pequenos gestos e sutis palavras em meio ao caos.

aquele tempo não volta, e até hoje existem almas perdidas esperando serem encontradas.
almas que vivem um dia de cada vez.
almas que se reconhecem num piscar de olhos.
almas que conversam sem dizer uma só palavra.
almas que, exiladas do seu tempo, não pertencem a lugar nenhum.
porque aquele tempo não volta mais.

e tudo soa como música antiga,
palavras repetidas,
imagens em preto e branco,
flores do campo.
só memórias.
porque aquele tempo não volta mais.

almas gêmeas .

o que você faz quando percebe que sua alma gêmea
já tem uma outra alma gêmea que, por sinal,
não é você ?

senta e chora.

isso é mais comum do que pensa.

e você levanta e sorri,
como se nada tivesse acontecido.
porque, de fato, nada aconteceu.

ah, ironia do destino.
será que ironia e destino são almas gêmeas ?

uma lágrima cai,
para em seguida um sorriso brotar no canto dos lábios.
ironia do destino.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

sobre o que sustenta.

o sonho é doce.
a lágrima é salgada.
o pão pode ser salgado e doce.

o que te sustenta, então, revela:
a vida é feita de sonhos e lágrimas.

esteja preparado:
o caminho é longo e breve,
e apenas você pode
pode percorrê-lo.

tudo não passa de um sonho.

quando você é jovem,
quer o mundo;
quando envelhece,
o mundo não te quer.

você corre e se perde tantas vezes,
que se acostuma.
você procura e encontra,
mas não é o bastante.

você sonha,
mas os pés continuam doloridos de tanto tropeçar.
então, cansado, você dorme.
e sonha.

ausência.

ela estava ali em pé
e tudo girava ao seu redor.
embalada pela música que tocava,
permanecia em transe ...
e no meio disso tudo era a ausência o que mais lhe dóia.

a escrita em mim.

escrevo por não saber
o que fazer
quando minha alma diz
aquilo que não quero ouvir,
quando minha alma mostra tudo o que poderia ter sido
no limiar de quem eu sou,
quando minha alma me faz lembrar de tudo o que deveria ter acontecido
e que não deixei acontecer.

escrevo porque minha alma não cabe em mim.
escrevo para lembrar e para esquecer de mim
e do que existe além de mim.

sábado, 17 de outubro de 2009

dos sentidos.

silêncio, por favor.

eu quero escutar o que não pode ser dito,
e preciso atingir o ensurdecedor da ausência de som.
isso tudo aqui não é mais suficiente pra mim.
eu quero mais.
eu preciso de um pouco mais.
talvez não seja o mais em si, mas o quê.
o quê que todo mundo busca,
mesmo quando não sabe o que está faltando ou o que perdeu.

eu tenho que ver o mundo quando pisco os olhos.
eu quero ver outro mundo quando abrir os olhos ... e quando fechar.

eu preciso sentir, mesmo na falta de sentido.

cheirar o perfume mais suave da flor mais selvagem.
lembrar de lugares, de situações, de pessoas - e de flores - pelo rastro que deixaram quando o vento soprou e revelou o que exalam.

provar o que vomitaram.
vomitar o que provaram.
do gosto ao desgosto.
não porque fizeram, mas porque eu fiz.

eu quero uma luz na escuridão.
eu preciso de um quarto escuro para fugir do sol que está lá fora.
não é apenas o sol que vai aquecer o que esfriou.
não é só porque está frio, que não existe calor
pra você e pra mim.

é porque eu preciso sentir, mesmo na falta de sentido.

então, silêncio.
por favor.

quando os cinco sentidos não são suficientes,
você procura mais um.
e você descobre que esse um é o sentido,
justamente por não ter sentido.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

só ela.

os olhos dela não conseguem mais esconder o que quer que seja.
no meio de tanta coisa é a dor que chama atenção.
e de onde vem ?
ela parece não saber,
está tão ligada ao que a rodeia e tão alheia ao mesmo tempo.
num instante a dor se converte em lágrimas.
e ela chora.
e ela não consegue parar de chorar.
uma música tocando ao longe num mercado a emociona.
uma palavra a deixa longe.
o olhar se perde.
como nos dramas mais estranhos e confusos,
tudo a sua volta a faz lembrar e sentir ...
e ela lembra justamente tudo o que não tem pra lembrar.
e sente o que transborda de seus sentidos,
que talvez só ela tenha.
só ela.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

trechos.

.
que algumas músicas falem por mim,
enquanto o que quero escrever não chega às pontas dos meus dedos cansados e doloridos.

eu, aquela que leva todas as culpas e que sente todas as dores do mundo.
ah, isso não é autopiedade ! é verdade.
experimente juntar inadiáveis responsabilidades e inexplicável sensibilidade (com todas as letras) .
o resultado?
quem vos fala, atravessada por uma tempestade.


então, vamos a alguns trechos:


Estranho é gostar tanto do seu All Star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras, satisfeito sorri, quando chego ali e entro no elevador aperto o 12, que é o seu andar,
não vejo a hora de te encontrar
e continuar aquela conversa,
que não terminamos ontem, ficou pra hoje.
[All Star - Nando Reis]


Dizem que a vida é assim
Cinco sentidos em mim
Dentro de um corpo fechado num vácuo de um quarto, espaço sem fim
[Longe - Arnaldo Antunes]



não me falta casa
só falta ela ser um lar
não me falta o tempo que passa
só não dá mais para tanto esperar

para os pássaros voltarem a cantar
e a nuvem desenhar um coração flechado
para o chão voltar a se deitar
e a chuva batucar no telhado

a casa é sua
por que não chega agora?
até o teto tá de ponta-cabeça porque você demora
a casa é sua
por que não chega logo?
nem o prego aguenta mais o peso desse relógio
[ A Casa é Sua - Arnaldo Antunes]


Eu já não sei
Porque quem sofre de amor
A cantar sofre melhor
As mágoas que o peito sente
[Eu Já Não Sei - Antonio Zambujo]


pelo amor de Deus
não vê que isso é pecado
desprezar quem lhe quer bem
não vê que Deus até fica zangado vendo alguém
abandonado
pelo amor de Deus
[ Sobre Todas As Coisas - Chico Buarque, Edu Lobo]


eu já me preparei
parei para pensar e vi que é bem melhor não perguntar
por que é que tem que ser assim?
ninguém jamais pôde mudar
recebe menos quem mais tem pra dar
[Trajetória - Arlindo Cruz ...]


Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo
Prefiro acreditar no mundo do meu jeito
E você estava esperando voar
Mas como chegar até as nuvens com os pés no chão?

O que sinto muitas vezes faz sentido
E outras vezes não descubro o motivo
Que me explica porque é que não consigo ver sentido
No que sinto, o que procuro, o que desejo e o que faz parte do meu mundo.
(...)
Mesmo se eu cantasse todas as canções
Todas as canções,
Todas as canções,
Todas as canções do mundo
Sou bicho do mato mas...
Se você quiser alguém pra ser só seu
É só não se esquecer: estarei aqui.
[Eu Era Um Lobisomem Juvenil - Legião Urbana]


Às vezes parecia
Que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto
Até chegar o dia em que tentamos ter demais
Vendendo fácil o que não tinha preço
Eu sei, é tudo sem sentido
Quero ter alguém com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim

Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como eu sei que tens também.
[Andrea Doria - Legião Urbana]


enfim, era mais ou menos isso o que eu queria escrever por enquanto.
confesso que uma certa noite de terça-feira me inspirou, assim como inspirou a Dona do Desabafos & Devaneios.
e sabe de uma coisa?
como dizia o grande quarteto ...

I get by with a little help from my friends
Gonna try with a little help from my friends
I get high with a little help from my friends,
Yes I get by with a little help from my friends,
With a little help from my friends.

.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

palavras repetidas .

é assim:
eu contra o mundo.
o mundo contra mim.
eu contra mim.
uma bagunça, dentro e fora.
comecemos, então.

preciso esquecer.
vontade louca de sumir.
minha alma está cansada.
muita coisa não tem sentido.
será que alguma vez houve sentido?
minha cabeça dói.
tensão.
há peso demais nos meus ombros.
eu não entendo.
não consigo entender.
sim, eu tenho saudade do que não sei direito.
não, não sou daqui... e nem de lá.
o mundo está ao contrário,
eu reparei e não consigo acompanhá-lo.
é ... eu sofro demais com as coisas.
e fico enjoada, me desequilibro e caio.
não gosto de jogos.
nasci perdida, cresci perdida.
provavelmente, devo partir sem encontrar
quem ou o que quer que seja.
lugar errado, época errada ...
às vezes fico ausente e voo.
rio descontroladamente.
choro desesperadamente e o céu parece desabar.
não sei ser metade.
há um vazio.
quieta até falar demais.
sensível até ser insensível.
acontece de vez em quando.
acredito em coisas que não se vê
e elas são essenciais.
amo meus pais, meus amigos, meus animais, música e palavras.
e isso, amar, não precisa de explicação.
é por si só.


as palavras são repetidas,
e não há problema nisso.
o coração apertado é meu
e um desabafo não faz mal a ninguém.
o que o cansaço destrói a gente pode reconstruir, se quiser.

crises e problemas de relacionamento, quem não tem?
dinheiro, quem não quer?
paz e amor, quem não precisa?
relaxa.
insatisfação crônica é 'apenas' mais um fruto
da vida louca que criamos ao longo do tempo que hoje nos falta.


por fim, tudo passa.
se há volta, aprende.
sorria e vida que segue.

ah, palavras ...


sábado, 3 de outubro de 2009

...

ela não sabe o que dizer.
o aperto no peito a sufoca.
as dores do mundo a invadem.
mais uma vez.
a mesma história?
ela não quer repetição.
ela precisa de um outro fim.
um novo começo, quem sabe.