domingo, 2 de novembro de 2008

a fada e o sapo.

essa é a história de uma fada que se apaixonou por um sapo.
sim, uma fada. não uma princesa.
princesa é irreal demais.
ela não gostava muito de ser irreal,
mesmo que muitas vezes assim parecesse e fosse.

a fada estava lá, sozinha, no seu canto.
sozinha, porque era como ela se sentia.
não importava o que acontecesse.
apesar disso, vários duendes a acompanhavam sempre.
os duendes eram tudo para ela, mas ela não. não era.
eles sabiam disso. pelo menos, deveriam saber.
o que eles sabiam, de fato, era que nunca chegariam ao ponto de entender o que se passava na cabeça dela... o que fazia aqueles olhos perderem o brilho diferente de uma hora para outra, o que a fazia chorar desesperadamente, o que a fazia se desprender tanto.
era o mistério mais claro que havia entrado na vida deles.

eis que num belo dia, ou melhor, numa bela noite,
cruzou com os olhos de um sapo a cantar.
ela não deu muita confiança, estava celebrando com os duendes.

só que a fada, mais sensível do que nunca, não contava com a astúcia do sapo.
aí está uma contradição.
no meio de tanta sensibilidade, de coisas que pareciam tão verdadeiras e fortes, não estava conseguindo entender direito os sinais.

o sapo sempre dava um jeito de tentar encantar a fada ...
e ela, com seu encanto sutil, correspondia.
acreditava em coisas que não se vê.
na floresta, encontrava umas sapinhas acompanhando esse sapo, mas não se incomodava a fundo.
sabia que era assim que funcionava a vida dos seres terrestres.

algo incontrolável acontecia.
ela sentia tanto, que não sentia mais nada.
quanto a ele, não sabia ao certo, pareceia não saber o que queria ou o sabia muito bem.
e ela temia.
temia estar com neblina a sua volta.
temia estar de volta ao mundo da ilusão.
temia estar enganada.

eram muitos temores.
a cabeça dela já não estava dando conta.

o canto do sapo a hipnotizava.
ele dizia que queria ser vaga-lume.
ela gostava.

até que um dia ela percebeu,
com a ajuda de uns duendes e uma sapinha,
que tinha alguma coisa estranha acontecendo com aquele sapo.
o papo dele estava indo longe demais.
tudo o que ela queria era entender e aceitar, mesmo que demorasse,
porque sabia que não podia controlar tudo.

o tempo passava,
a dor aumentava.
ela descobriu coisas que não queria.
não queria que fossem verdade,
mas só conhecia uma parte da história.
e sabia que não era o suficiente.
os duendes ficaram bravos
e não acreditaram em lágrimas derramadas.

a fada,
que sempre foi chorona,
que cuidava de tantas coisas na floresta,
que sentia o mundo em suas mais dolorosas faces,
não chorou.
ela estava cansada dos fantasmas,
cansada do que o sapo a fazia lembrar,
ainda que não tivesse o que lembrar, objetivamente.

então, numa noite cheia de sonhos - porque vivia deles -
a fada decidiu não pensar mais, não amolecer, resistir.
ela tinha a noção de que seria difícil e aos poucos, mas a decisão, por si só, já trazia certa calma.
só ela compreendia o quanto as decisões doíam e aliviavam.
o sapo?
contiuava a ser quem era, com as mesmas coisas.
talvez não tivesse idéia do que a fada estava passando,
mas gostava dela
porque ela fazia bem a ele de alguma forma, e voava.

a história não acabou.
a fada ainda sente o sapo, mas tem que aprender a não sentir.
não desiste fácil dos seres.
ela se entrega, se rende, mas mantém a alma de fada.
isso ela não consegue alterar.

sabe qual é o problema?
a fada acredita na eternidade, no sublime, e é por isso que ela voa.
cai de vez em quando, mas o vento a segura.
aliás, amava tanto o vento que dizia ter um pedaço dele em si.
o mesmo vento que protegia os duendes, que balançava as árvores,
que confundia o sapo e que fazia dispersar a terra.

a fada queria voltar para a lua
e brincar com as estrelas,
sob o olhar atento do sol,
e com o vento em seu interior.

apesar de estar muito cansada,
preferiu ficar, enfim.
e viver
e deixar viver.


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Um comentário:

Minha Transformação disse...
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